domingo, 26 de dezembro de 2010

Diários não expurgados: Sri Lamka


E eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda a minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam & jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício, explodindo como constelações em cujo centro fervilhante pode-se ver um brilho azul & intenso. (Kerouac em On the Road)

Pé na estrada outra vez, amor meu.  Volto antes do carnaval chegar, prometo. Não se aflija, enfiei nossos sonhos no bolso e te desenhei nas minhas encostas junto à promessa de cachorros & filhos  & crônicas de domingo & sorrisos cansados. Te vejo ainda vestindo aquela camisa xadrez enquanto toca sua gaita na varanda. o que você faz melhor. Estou enfeitando nossa filosofia e meu vestido de flor. Me aprontando para nós & nós. Eu te amo, eu te amo. Adoro esse teu desprendimento e acho que ele encerra tão bem meu ar sonhador. Quero a sua tosse & nossa casa sem mobília & o seu corpo baldio se escondendo  da rua. em mim. Você traçando um destino anti-heróico ou ouvindo Chet Baker ou me acusando de ler Kerouac demais. Permita que os gatos subam na cama por esses dias em que eu estiver fora. Se enrosque com qualquer outra coisa que te aproxime das minhas américas, faça amor comigo e nem mesmo todas as mulheres do mundo... Te quiiieeeeero, hooommmbre! Assim mesmo, de maneira um pouco languida e bastante arrastada. Cuide do jardim, não exagere na comida dos peixes, me escreva cartas longas, durma com a janela escancarada e deite comigo num campo de girassóis vermelhos. eu te amo. Quero ver a luz do sol borrando teu rosto & o bifurcar dos nossos cem anos de solidão em camiños de poente derramado.  Pode ser até um caminho estreito onde não vinguem ervas e os motoristas sejam loucos sonhando uma felicidade rasteira ou além da alma.  Te levo comigo à meia luz, ao meio dia, confie em mim & ouça canções espanholas. Trarei comigo sapatos pequenos, livros infantis, riachos e lobos. Jamais trairia nossos sonhos. Eu aprendi a amar os seus vôos rasantes e a sua música, entenda você que metade de mim é estrada e solidão. Eu te amo, meu bem. Quero me misturar a você, e sabes bem que não exijo lençóis limpos ou sombra macia. estou aquietando as minhas paixões. Parto com Ginsberg entre as coxas e  Parker ao pé do ouvido. Hasta siempre, minha vida. Não me esqueça nunca.  

Com amor,
Uma certa Kiki.

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