quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Intervalos





...a garoa fina pairando sobre a garota fina que dobra as esquinas corroídas pelo tempo e se arrasta pelas galerias, carregando o peso de todas as ausências. Na sala ao lado alguém grita ao telefone e em seguida desliza para o quarto e se dissolve em vales rubros de dor e decepção. O desejo desatado veste apenas a aurora que empalideceu na estrada de terra úmida enquanto o homem grande carrega o caixote, onde se sentará ao alcance da música hindu. Penso então em nós dois deitados nus, sagrados & esquizofrênicos e não posso deixar de perguntar, meu amor, em que lugar longínquo enjaulamos nosso coração selvagem naqueles dias de iluminuras e bancas de jornais? [...] e te amo como se ama um passarinho morto.(Manuel Bandeira)


Interlúdio: 

Revolvendo os versos que esquecemos na chuva. O perfume doce misturado com o álcool, os olhos úmidos e vermelhos demais. Continuávamos a evitar qualquer tipo concessão: nada de rimas por aqui! “Pensei que poderíamos dividir a mesma garrafa agora”. Entreguei muito daquela segurança em troca de liberdade, e o que sobrou? O caos, nós dois aqui sentados com as calças frouxas sobre blocos de excentricidades sem saber exatamente o que fazer com tudo isso. Cacos. Apanhou as malas sorrindo como um louco jogador de cartas “Você é uma bêbada e eu te amo”. Bateu a porta.