segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Retrato em quatro atos


Uma balada de encontro e despedida, em memória das madrugadas regadas a jazz e vinho barato, dos amores arrematados em silêncio, do falar baixo, do desejo de pés de lã. Das coisas que caminham breves, brandas, brancas, macias, mansas, leves...

sem título
Por Leandro Franzoni:

De todas as fases
És a mais bela
Eis a maestria que faz
A corporatura da donzela
Que tem o cume tecido
De neves ebenáceas
Que tem o caule rejuvenescido  
Como de lindas orquidáceas
Que tem lábios de carnívoras
Que seduz o beija flor
Que inveja todas as víboras
Porque usufrui todo amor
Em sua áscua, a juventude
Que deixa a pergunta sincera
O que é de tamanha amplitude?
És...primavera

Mas quando a aurora intensifica
Em três meses muda ela
Pois os raios nos indicam
O que é a alma da donzela
Que traz fúria tropicalista
Com sabor de humildade
Pois sua mente socialista
Nos ensina moralidade
É seu calor envolvente
Oprimido por idosos
Que por não serem adolescentes
Desejam-na contagiosos
E em sua praia de ternura
Eu encontrei minhas férias
Pois compartilhei tamanha doçura
Na moça de palavras sérias
És a aura carnavalesca
És pagã de coração
És canto de princesa
Es tu...verão

E quando sopra mais forte
Nas emoções dessa que ama
Ama a fronteira da morte
O coração da bela dama
Que em turbulentos vendavais de amor
Viu a queda das folhas em luto
Mas quando aterravam perdiam a cor
E esperavam um novo fruto
Deixou folhas secas para trás
E traz consigo as verdes
Como os frutos primordiais
Que amadurecem às vezes
Ou são apanhados antes da hora
Mas se esperam demais em vezes
Apodrecem por tal demora
Então cai e vira semente
E sepulta em longo sono
Depois desperta ao ciclo demente
Oh! És outono....

Resfriando o vendaval
Tece o mais longo órgão humano
Com um brilho colossal
Envolta em neve de fim de ano
Que às vezes fica vermelha
Pelos enfeites de natal
Quanto mais branca se assemelha
Porque gela em ti um frio dorsal
Por um medo que tu tenhas
Ou por alguém que tu vês
Que um dia queimou lenhas
No que tanto tu crês
E se ficas amarela
Por um indesejado frio
Que passa na janela
E finges que não viu
Quem é essa neve
Que cobre outras estações
Branca como uma semibreve
Tocada nas ultimas canções
De um compositor italiano?
Quem é você neve louça
Que como um branco terno
Envolve o corpo da moça?
Oh! És tu inverno...

Mais o que é de tal formosura
Juvenecida como a primavera?
Que alma tem a doçura
Do verão de nossa atmosfera?
Que amores têm lamentos
Da estação dos grandes ventos?
Que inverno resplandece
De uma pele que não se esquece?
O que é tão meigo
De beleza exuberante
Que faz com que me sinta leigo
E me deixa ofegante?
És todas as estações
Perdidas em uma ilha
De vulcânicas emoções
És...Marília.

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