sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pablito e eu


Pablo Picasso - Retrato de Dora Maar

Depois de Vinícius comecei a vasculhar Picasso, outra vida delineada sob a égide da paixão. Ferino apreciador da sensualidade feminina, Pablito representa para mim a sutileza do instante que repousa inaudível entre intensidade e violência. Homem enérgico, possessivo, ciumento, dotado de virilidade e força, as biografias de suas mulheres musas relatam o transtorno que escoltava o término dos relacionamentos, evidenciando o vazio que assolava as vidas outrora irrigadas pela magnitude da presença cortante do pintor espanhol.  Sobre Fernande Olivier, uma das precursoras, é sabido que o artista apesar de vangloriar-se publicamente de sua beleza, trancava-a em casa quando se ausentava chegando inclusive a sugerir a possibilidade de abastecê-la completamente a fim de evitar qualquer espécie de exposição e cobiça. Marie Thérèse Walter enforca-se após a morte de Picasso. O que mais me choca, entretanto, é a impassibilidade e crueldade com que se desenhavam tais relações, essas mulheres a despeito de representarem muitas vezes o embrião de seus instantes de efervescência, influenciando inclusive a transição entre uma fase e outra, eram apreendidas enquanto personagens, bonecas de onde não jorra seiva alguma.
Livre e munida da esperança da possibilidade de  exorcizar meus demônios, estou me preparando internamente para registrar  uma certa história. Reviver Picasso é, de longe, um ensaio, uma dose saudável de esquizofrenia protagonizada nos bastidores de mim. Amém.

Interlúdio:

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