segunda-feira, 18 de julho de 2011

Obrigada por isso

Rimbaud por Picasso

Sejam frágeis demais ou muito vagos, os laços que unem pessoas que se encontram por acaso num hotel à meia-noite possuem uma vantagem, pelo menos, em relação aos laços que unem os mais velhos, que, uma vez juntos, têm de viver junto a vida inteira. Podem ser frágeis, mas são vivos e genuínos, meramente porque o poder de rompê-los está ao alcance de todos, e não há motivo para continuar, exceto um verdadeiro desejo de que continuem. Quando duas pessoas estão casadas há anos, parecem tornar-se inconscientes da presença corporal uma da outra, de modo que se movem como se estivessem sozinhas, falam alto coisas que não esperam resposta, e em geral parecem experimentar todo o conforto do isolamento sem a solidão. (Virginia Woolf)

Gosto quando palavras estrangeiras me esclarecem, conferindo forma à desordem dos instintos e ao medo desarticulado que é sussurrado em silêncio atrás das venezianas. Penso em tudo que nasce em mim constantemente, em coisas que se misturam e se atropelam e cuja aparência permanece velada diante da inexistência de um esboço. Talvez seja um corpo o que obsessivamente tenho buscado na literatura - na palavra lapidada do outro, que me relata ou me desfigura. Virginia, obrigada por isso.


Interlúdio:



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