segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Outra ''briga de amor com o mundo''




Fim de tarde. Domingo de cansaços e lágrimas de viúva. Uma paleta jogada no asfalto embaixo da chuva. Misturar, borrar, escorrer imprecisa. Cantar sozinha, derramar sozinha, tantas ruas nos meus olhos, poesia fluida, texto sem cerimônia. Carrego feixes de lenha através das manhãs incultas, insisto em compartilhar essa cama estreita, peço perdão por te acordar de repente com a graça de um sorriso que só faz fugir. Delírios, barricadas, versos que não me aceitam. Uma desgarrada, eles pensam.  Penso em você que perdeu todas as apostas para sempre, meu capricho. Eu era moça nua nos teus olhos, e você menino nas minhas cirandas de vanguarda. Benvindo, benvindo, benvindo.
É que odeio a fatalidade do alvorecer, cicatrizes no rosto do tempo, é que o sentido mais profundo da espiritualidade repousa na sexualidade, e eu preciso buscar. Gritos, saltos e leões. Parece maluquice, mais fácil se me entupisse de gozo raquítico, eu sei, herdar o cheiro das boas maneiras vestidas e calçadas, mas não, rebento para ti, vasto mundo, e esbravejo: tenta-me.   


Interlúdio:
                                                                                                 
                                                                                                     Por Carl Solomon

Vida é Gary Cooper combatendo Árabes em seu uniforme da Legião Estrangeira.
Vida é ler Kierkegaard em 1948 na biblioteca da Rua 42.
Vida é andar entre os anos cinquenta e os anos sessenta.
Vida é mãe, tias, primos e a lembrança do pai.
Vida é enumerar os suicídios e as psicoses deste e daquele.
Vida é ter raiva, raiva daqueles reais ou imaginários que se tornaram ricos e bem-sucedidos e sumiram deixando você mergulhado em seu desespero.
Vida é a velha fachada, boa para os anos cinquenta mas que não serve mais, sempre sorrindo e aparentando felicidade, ignorando todos os estados entre a felicidade e o desespero.
Vida é analisar verbos e escovar os dentes.
Vida é jogar Monopólio, Scrabble, Tênis, Pingue-pongue e tomar novos rumos.
Acima de tudo, vida é engano, quando os esquecidos retornam, quando você encontra velhos amores e novos ódios e eles se mesclam e se confundem numa trama que nunca percebemos por inteiro, de que desconhecemos os motivos fundamentais.

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