domingo, 15 de maio de 2011

efêmero



                                                                              Para o Vitor de tempos depois

Agora para onde? Recém desperta, carrego um filho em mim e nenhuma prece se debruça sobre teu peito. Permaneço suspensa entre as coisas que já não são uma possibilidade. Tenho revisitado pretéritos e permitido que novas paisagens irrompam em caminhos ancestrais. De qualquer forma, é doce e aconchegante lembrar de nós assim meninos em coloridas tardes remotas isentas de culpa, muito antes da Idade da Razão, enquanto observávamos infinitos telhados de zinco tentando imaginar o que viria depois, sem reconhecer em nada a leveza e seu contraponto. Escreva um poema com efêmero e até um dia.

Interlúdio:


Então fui penetrando de leve numa região esverdeada em direção a qualquer coisa como uma lembrança depois da qual não haveria depois. Era talvez uma coisa tão antiga e tão humana quanto qualquer outra, mas não tentei defini-la. Deixei que o verde se espalhasse e os olhos quase fechados e os ouvidos separassem do som dos pingos da chuva batendo sobre os telhados uma voz que crescia numa história contada devagar como se eu ainda fosse menino e ainda houvesse tias solteironas pelos corredores contando histórias em dias de chuva e sonhos fritos em açúcar e canela e manteiga. [Caio Fernando Abreu] 

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